sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bateu saudade !



Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo naquele topo de pedra fria, até que a temperatura encomodasse, e quando encomodou, já não havia como você ir embora. Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que os raios do sol poente , refletidos em seus olhos, os deixavam ainda mais castanhos-esverdeados. Mas você chegou tarde , a noite já havia tomado conta .Poderia dizer que os sussuros soprados do pé da montanha nos remetiam a um estado de êxtase impossível de ser transposto . Bem, bastara eu pra saber que o que aquele instante trazia por si próprio era mais do que suficiente para extasiar os seres mais inquieto e impossíveis - nós sabíamos . Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi o sol se pondo e, à frente do sol, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que eu sempre ia, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nesse céu e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa no alto-do-mundo, você nunca mais me deixou ...
Nicole Manes
Ouvindo Karen Dalton - It Hurts Me Too , tomando cervejas, olhando pela janela e escrevendo ...