segunda-feira, 29 de junho de 2009

Para Sophia, que ainda habita Dani


No meu peito que te ousará o sono, sonha, pequena, as desventuras desta vida a vir. Será, eu sei, humana e variante, dona do meu amor supremo, este falho e lancinante, convicto e imortal. E que ao arrebentar-te os dias, após a calma dos meses na barriga (a cercania do ventre fraterno - e teu materno), você seja plena nas paixões, nas dores, nos suores e na incrível arte de se manter de pé, sejam quais forem as marés da tua praia.

Que tua terra seja germinada por bons afetos, que teu corpo só obedeça teus limites, que tua ânsia seja sem delongas, que tua convicção seja soberana. E tuas horas caminhem amplas, leves e graves: antagônicas, princípio e fim de uma alma livre.

Faça da solidão tua amiga e ame até dar dor no peito.
Visite teus infernos.
Trave relações imperfeitas.
Perca o prumo.
Odeie algumas vezes.

Até vislumbre desgraça, mas só enxergue poesia.

Da mana,
Nick.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

meu corpo bastardo se desaloja enquanto releio as bulas do teus remédios (tua contra-indicação) procurando alguma cura. ou alguma perversão. sou tão opaca destilando verbos sem sentido como fossem estes potentes como veneno! vou tecendo fios de cobre, trancafiando as nossas memórias, envencilhando nossos restos aqui e acolá, represando marés que se são donas e engaiolando vendavais rebeldes. tateio no escuro do quarto, no legado da cama, alguma sanidade que me leve pra longe, bem longe deste gosto de antídoto na boca.

terça-feira, 9 de junho de 2009

eu preciso de muito pouco para viver, mas desse pouco eu preciso muito. ou seja: pratico o desapego pela metade.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Não, não, eu não serei uma daquelas pessoas que tomam café com creme sozinhas no cinema enquanto esperam a sessão. Tampouco serei uma moça de cabelos molhados que mais olha para o chão do que para os outros entre estantes de uma livraria. Também não vou ter ares de pequena loucura, olhos fundos deitados sobre um livro, uma folha branca sendo preenchida enquanto um copo é esvaziado em algum restaurante quase chique da zona sul (tão digno de mim que indigna de tudo!). E nem me imagine como uma distinta senhora de cabelos brancos e óculos de aros vermelhos a dourar a pílula da vida alheia - sublimando os desejos que nascerão entre as minhas vírgulas - quando chegar a tarde dos meus anos todos. Não tenho fôlego para viver assim, aos poucos, pela tangente, vc sabe. Vou seguir o roteiro que eu tão bem tracei, vou vestir a personagem e seguir bailando: mãos na cintura, olhares lascivos, risadas largas e tiradas de humor dúbio. Eu, elas e eles, todos. Pq eu sou mesmo muito boa em fazer amor, amigos e macarrão instantâneos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

e então ele passava os dias lá, pouco reparando no tempo líquido, sem evitar a morte e sem pretendê-la. já não era um homem, por assim dizer, embora não tivesse deixado de lado a aparência severa dos que tem brio, uma barba quase sempre por fazer e os formigamentos do corpo. achava que amanhecer era muito lógico e que escurecer era consequência. não questionava, não temia, não sentia sobressaltos. um dia, sentiu o peito arder. não era fadiga, já que não se cansava nunca, não era amor, já que esse era verbo distante. com a mão esquerda em garra sobre a camiseta vermelha, entendeu que era o fim. arrumou-se no melhor terno, fez o cabelo afixar-se em gomalina, comeu alguma coisa e esperou.


esperou por anos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

- queria ter mãos estreitas pra desatar o nó da minha garganta -