quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Minha florzinha ,

Tenho pensado muito em você esses dias. Esses seus olhinhos estão me deixando agoniada... Olhinhos de quem tem pressa e nem se sabe de que; olhinhos que querem rir e querem sofrer ao mesmo tempo, e que não querem querer, também.

Percebo que você tem sentido em cada milímetro do corpo e que, várias vezes ao dia, acha que vai morrer se disfarçar um pouco. De fato, morreria um pouquinho, justamente por deixar de ser você e passar a incorporar outra pessoa. Como sua cuidadora, não acho que você deva se levar ao suicídio - mesmo que parcial.

Queria lhe falar sobre a paixão, que faz tudo parecer extremo e irremediável. Você precisa ter calma, ou estará cega demais pra perceber a saída. A paixão é uma mistura de realização, dor e cegueira ao cubo - é o tal contentamento descontente.

Esse quê de incerto que faz o coração parecer carne moída pode durar meses, ou anos. É mais ou menos como um comercial de shampo: você se apaixona não por uma pessoa física, mas por uma projeção. A paixão acaba quando você se dá conta de que aquela felicidade instatânea, que parecia comida enlatada de tão esquente-e-sirva, também era projetada. Fica a ressalva de que esse start pro mundo pode JAMAIS ocorrer . Mas pode relaxar porque, afinal, viver de ilusão não é errado e tampouco ruim. A vida é verdade inventada, e o cúmulo da ilusão é crer que não é nada disso.

Me tira o sono a certeza de que mais uma vez você vai até o fundo desse poço procurando aquele mesmo final feliz das outras vezes – e que não sabe se dá ou não aquele sinal de existir. Não me conformo com essa sua paixão pela contramão, ao mesmo tempo em que te admiro pela perseverança em plantar e semear a sua própria felicidade, indo às últimas consequências.

Mas preciso deixar registrado que esse amor de muitas rugas já está mais que na hora de ter o seu lugar ao sol, ou na gaveta. Não aguentaria ver mais você, a mais soberba das criaturas, literalmente se rastejando no chão por alguém que não te oferece o mínimo. Não é vergonha deixar um amor em banho maria... sempre é hora pra vivê-lo, embora alguns momentos sejam mais propícios que outros.

Talvez não haja maturidade o suficiente em ambos os corações valentes para aquecer essa relação ao ponto certo... e talvez vocês não consigam aproveitar todo o sabor que ela teria a lhes prover. Só queria mesmo dizer pra você embrulhar qualquer 'talvez', tão vago quanto a própria classe gramatical, e pensar em ser feliz com plenitude.

Se você se pergunta o que está fazendo brigando e discutindo enquanto o que queria era cair em doces deletérios, se está cansada de se calar quando o mundo se une para lhe dar seguidas lições de moral. Permita-se. Se você acha que no fundo mesmo, apesar de todas as caras feias que verá e de todos os obstáculos que terá que ultrapassar, o que importa é ter pra quem mostrar que saiu o arco-íris. Permita-se.

Porque eu não quero que você tenha essa pressa ao ponto de ajudar com as próprias mãos. Eu quero que você sinta esse prazer que chega aos poucos. E mata tudo o que há em volta. E explode os relógios. E chega aos poucos ainda que você não saiba nem que é pouco e nem que é lento. Porque você morre. Se você prefere a vida quando se morre um pouco por alguém, permita-se.

Não queira ir embora e esperar o dia seguinte, mas tenha calma. Para os erros incalculáveis, sempre há o outro dia e estarei por perto pra te lembrar disso. Ás vezes faz bem vestir a camisa de força...

Pode soar estranho tudo isso vir de uma 'serial lover' mas, bem, é uma grande mentira viver sozinho. Permita-se.

Estarei contigo pra lhe ajudar a vencer esses dias chuvosos e chatos.

Te amo , nega.


Nicole Manes